O glamour e a democracia de Tocqueville
2, February 2018 - by admin
Glamour é algo que alguém faz igual a todo mundo, mas sem esforço. Alguém já escutou Top Model sendo entrevistada? Elas comem de tudo e não engordam. Aquela perna sarada? Nasceu daquele jeito. Barriga negativa elas têm desde crianças. E o cabelo com luzes, que você passa horas no salão para ficar igual, é genético. A vida real não é tão fácil, mas elas sabem que se esforçar muito para ser do jeito que se mostram não é glamoroso. O problema é que o cabelo da Gisele Bündchen não incomoda enquanto ele é apenas o cabelo da Gisele Bündchen, mas quando ele passa a ser o seu cabelo a coisa muda de figura… para suas amigas.
Senso de paz e felicidade é muito relativo. Quando é que nos sentimos bonitas? Ou felizes e prósperas? O ser humano em geral mede seu grau de felicidade se comparando com os outros seres humanos, mas não com aqueles seres humanos que estão de longe e sim com os que estão por perto. O que nos faz sentir esse incômodo é o nosso senso democrático de igualdade. O mundo moderno nos diz que somos iguais em direitos e oportunidades. Então, se é assim, por que é que seu vizinho mora em uma casa maior do que a sua? Ou sua colega de trabalho vai à Europa e você não? Se vivemos em uma sociedade com igualdade de direitos, porque é que somos tão desiguais?
Em 1776 os Estados Unidos da América tiveram uma revolução que mudou sua sociedade e que mais tarde repercutiria na nossa. O sistema hierárquico social europeu foi abolido. A partir daquela data não importaria mais de onde você veio e sim para onde você iria. Seu sucesso não seria mais vinculado a sua família ou tradição e sim às suas próprias conquistas. Você poderia mudar seu “status social” se tivesse talento para isso.
Em 1831 Alexis de Tocqueville, um aristocrata francês, foi aos Estados Unidos para estudar o que ele chamou de “a futura forma e temperamento do mundo” e o que viu deixou-o muito impressionado e assustado em relação ao nosso futuro.
Tocqueville percebeu que todos os limites para o sucesso foram abolidos e que apesar dos democráticos americanos comuns possuírem melhores condições de vida do que os aristocráticos europeus, os primeiros ainda queriam mais e mais, e, pior do que isso, que não gostavam quando alguém tinha o que eles não tinham.
Nas sociedades democráticas a opinião pública nos pressiona a pensar que podemos ser quem quisermos e quando não conseguimos ser quem sonhamos nos sentimos inadequados. Nesse tipo de sociedade não é apenas a comparação com os outros que nos atormenta, mas também o quanto exigimos de nós mesmos.
O nosso alívio e socorro vem com Epicuro, um filósofo grego que nasceu no ano 341 a.c., e seu pensamento de que todos nós podemos ser felizes. Somos infelizes, segundo ele, porque sempre procuramos nossa felicidade nos lugares errados. Epicuro propunha uma vida divertida e dizia que havia descoberto o que realmente necessitávamos para obtê-la. A primeira coisa é que deveríamos ter AMIGOS e conviver com eles. Por exemplo, nunca deveríamos comer sozinhos, porque “alimentar-se sem um amigo é para leões e lobos”, dizia Epicuro. A segunda coisa que deveríamos ter para sermos felizes é LIBERDADE, que resumiria sermos economicamente independentes e autossuficientes, porque depois de sermos independentes não temos que provar nada a ninguém. E a terceira coisa é que precisamos terTEMPO para pensar na vida e analisarmos nossos atos.
Ok. Mas muito antes de termos essa conversa aqui os publicitários já sabiam das ideias de Epicuro e usaram isso a favor das marcas que representam.
Quando vemos uma propaganda de carro na TV, geralmente, ele está a 200 km/hora, em uma estrada reta e apenas com uma pessoa. Ali, o motorista tem pleno poder sobre a máquina, e ele corre, porque é LIVRE. Ou quando você vê uma propaganda de cerveja, geralmente, é um grupo de AMIGOS se divertindo muito, extremamente alegres. Ou quando o seu banco te diz que resolverá seus problemas e você terá TEMPO para a sua vida.
E o problema aparece, porque quando você compra esse carro e vai ao trabalho fica parado no congestionamento. Ou quando chega ao Happy Hour com seus amigos e vai tomar a cerveja, essa não está gelada ou já acabou. E o banco que iria te disponibilizar tempo lhe impôs altas taxas e ficou com um monte do seu dinheiro para ele.
… Porque o que você realmente deseja não é o carro, a cerveja ou o banco e sim a liberdade, os amigos e o tempo para você.
Não deixe o lado negro da democracia te manipular.
Pare, se olhe e pense em que tipo de ser humano quer ser ou se tornar.
Foque em você, nas capacidades que você tem para oferecer ao mundo e compartilhe o que você tem de melhor.
Seja glamorosa. Seja feliz.